Em novo caso de violência relacionado ao fornecimento de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, ao menos 17 palestinos morreram e dezenas ficaram feridos nesta terça-feira (10) após soldados de Israel abrirem fogo perto de um local de distribuição de mantimentos, segundo autoridades de saúde locais.
Milhares de deslocados se aproximavam de um ponto de distribuição gerido pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), organização apoiada por Israel e pelos Estados Unidos, no momento em que os tiros foram disparados. Médicos afirmaram que os feridos, cujo número total é incerto, foram levados para dois hospitais: o Al-Awda, em Nuseirat, no centro do território, e o Al-Quds, na Cidade de Gaza, ao norte.
Relatos de violência têm sido frequentes no contexto da distribuição de ajuda pela GHF, e dezenas de pessoas foram mortas em situações semelhantes. Como tem sido praxe, o Exército de Israel afirmou nesta terça que os soldados dispararam tiros de advertência contra “suspeitos que avançavam na área de Wadi Gaza [centro do território] e representavam uma ameaça às tropas”.
Segundo os militares, os disparos foram feitos a centenas de metros de distância do local de distribuição e antes do início das operações. Israel admitiu que algumas pessoas ficaram feridas, mas contestou os números divulgados pelas autoridades palestinas.
A GHF, por sua vez, disse que a distribuição de alimentos em três pontos do sul e do centro de Gaza ocorreu sem incidentes. Em nota, afirmou também que o episódio com tiros ocorreu horas antes do início das atividades.
A fundação, um grupo privado que paga a empreiteiros americanos para distribuir alimentos em áreas ocupadas por Israel no sul de Gaza, tem sido criticada por palestinos e várias organizações que atuam com direitos humanos. Segundo testemunhas, milhares de pessoas caminham por até 20 quilômetros na tentativa de conseguir comida, mas muitos voltam de mãos vazias.
Mohammad Abu Amr, 40, pai de dois filhos, afirmou à agência Reuters que chegou ao local às 2h da manhã, mas ouviu que os pacotes acabaram em cinco minutos. “Isso é insano e insuficiente”, disse ele.
Philippe Lazzarini, chefe da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), voltou a criticar o sistema de distribuição atual, chamando-o de humilhante. Segundo ele, apenas as Nações Unidas têm a capacidade e a confiança da comunidade para garantir entregas seguras e eficazes em larga escala.
Israel, por sua vez, tem defendido o fim da UNRWA sob o argumento de que a agência tem vínculos com o Hamas —algo negado pela entidade.
O debate sobre quem deve liderar a entrega de ajuda ocorre durante a crescente crise humanitária em Gaza. Após 11 semanas de bloqueio, Israel permitiu no dia 19 de maio a retomada limitada das operações humanitárias lideradas pela ONU. Ainda assim, a organização descreve a quantidade de ajuda liberada como uma “gota no oceano”, insuficiente para atender aos 2,3 milhões de habitantes do território.
Em outro episódio de violência nesta terça, autoridades de saúde relataram que um ataque aéreo israelense contra uma casa em Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, matou oito pessoas, aumentando o número total de mortos em 24 horas para pelo menos 25.
A guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando militantes liderados pelo Hamas mataram 1.200 pessoas, a maioria civis, e fizeram 251 reféns em território israelense. Desde então, a ofensiva israelense já deixou mais de 54 mil mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, além de destruir grande parte da infraestrutura do território.
Diante do colapso social, testemunhas relataram que ao menos 40 caminhões com farinha destinados a armazéns da ONU foram saqueados por deslocados famintos, perto do cruzamento Nabulsi, ao longo da estrada costeira de Gaza.
Segundo projeção da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), iniciativa apoiada pela ONU, 100% da população de 2,1 milhões de pessoas no território está em risco de insegurança alimentar, e 470 mil estão em “níveis catastróficos” de fome.
*Portal G1 Internacional